De caçadores à presas fáceis, esse é o parâmetro da
constante do futebol paraense, na última década. Todo o respeito construído no
passado vem sendo destruído a cada ano como consequência de campanhas medíocres
em competições nacionais. Os torcedores paraenses ainda procuram entender o
verdadeiro motivo dessa tremenda decadência.
A virada do século XXI apresentava-se com os três
principais times do estado, Paysandu, Clube do Remo e Tuna Luso, na segunda
divisão nacional, juntamente com outros clubes conhecidos do país, como Ceará,
Paraná, Avaí e Figueirense. Em 2001, o Paysandu conquistou o seu segundo título
da Série B fazendo uma campanha impecável, botando novamente o futebol paraense
na elite do futebol brasileiro. No ano seguinte, o Papão da Curuzú levantou a
taça de campeão da Copa dos Campeões, passando por grandes clubes, como
Palmeiras e Cruzeiro, se credenciando para disputar a Libertadores da América
de 2003, principal competição do continente. Seria a primeira vez em que um
clube do norte disputaria uma competição continental. Com altos investimentos,
a Libertadores foi totalmente rentável para os cofres do clube, porém um
escândalo envolvendo a SUDAM e o presidente do clube na época, Artur Tourinho,
botou em cheque a autenticidade dos triunfos.
Iarley, autor do gol memorável, na partida diante do Boca Júniors, em 2003 |
Na Libertadores, as expectativas estavam em cima de
Robson “Robgol”, Vélber, Sandro Goiano, Iarley, dentre outros. O clube terminou
a primeira fase na liderança do grupo e manteve sua invencibilidade, obtendo a
vantagem de decidir em casa a vaga para as quartas de finais, jogando em casa a
segunda partida. Na primeira partida das oitavas, o time paraense visitou o
temido Boca Júniors, que jogando dentro de casa mantinha um amplo favoritismo,
levando em consideração a dificuldade apresentada para os adversários no estádio
La Bombonera. Até então, apenas dois clubes brasileiros haviam vencido ali,
Santos e Cruzeiro. Iarley marcou o único gol daquela brilhante noite dos
paraenses, dando uma vantagem ainda maior para o Papão, que precisaria apenas
de um empate no jogo de volta para avançar de fase. Foi o ápice do futebol
paraense, chegando o mais longe possível, um feito bastante reconhecido no mundo
futebolístico. Infelizmente, na partida de volta, o bicolor estadual acabou
perdendo por 4-2, vivendo uma noite de eliminação frustrada diante de um
Mangueirão lotado, em pleno período de greve rodoviária. Encerrava-se ali a
melhor temporada do Paysandu e do futebol paraense.
Na Série A, o clube fazia campanhas regulares, mas
após a saída de Tourinho da presidência, as dívidas dificultaram as negociações
e não mantiveram a mesma qualidade de investimento. Prova disso, o rebaixamento
em 2005 para a Série B e em 2006 para a Série C, aonde ainda se encontra, mesmo
após breve retorno à Série B em 2013. Nesse mesmo período de descenso, em 2005,
o Clube do Remo conseguira voltar à segunda divisão, carregando nas costas o
seu primeiro título nacional, a Série C no ano de seu centenário, tendo a
melhor média de público entre as três divisões do Brasil.
Clube do Remo, campeão da Série C de 2005 |
O futebol paraense se manteve na Série B, com o
Clube do Remo, por mais dois anos e posteriormente sucumbiu para a Série C, a
última divisão. Em 2008, a CBF anunciou a criação da quarta divisão, que teria
sua primeira edição realizada em 2009. Três times paraenses disputaram a
terceira divisão daquele ano, Paysandu, Remo e Águia, time do interior, que
chegou ao vice-campeonato estadual, garantindo sua vaga no brasileiro.
Curiosamente, apenas o time de Marabá disputou a última fase da competição,
ficando à um gol do acesso. Enquanto isso, o Clube do Remo caia para a Série D
e o Paysandu ficara na Série C.
Com sucessivos fracassos, os paraenses começaram a
perder sua identidade e mergulharam em crises financeiras, dirigentes mal
intencionados, sugando os poucos lucros obtidos. A última conquista nacional do
Pará veio através do São Raimundo de Santarém, em 2009, justamente na primeira
edição da Série D. O time santareno oscilou rapidamente, e no ano seguinte
retornou à última divisão, onde nem lá se encontra mais. O Paysandu ainda
retornou para a Série B, em 2013, como dito antes, mas foi rebaixado
precocemente, frustrando novamente o torcedor bicolor e a imprensa que
imaginavam o forte retorno do futebol paraense no cenário nacional.
Independente Tucuruí, primeiro clube do interior que conquistou o Campeonato Paraense, o feito foi em 2011 |
Dois times do interior conquistaram pela primeira
vez o campeonato paraense em dois anos consecutivos. Independente em 2011 e
Cametá em 2012. A estática dos dirigentes causou o declínio das safras de
contratações, igualando os clubes da capital com os do interior. De fato, a cada ano, um time do interior
sempre se destaca e bate de frente com os maiores já não tão maiores assim. O
estadual se tornou mais equilibrado? Existem controvérsias, críticas e opiniões
diferentes sobre a questão. Muitos apoiam a crescente dos emergentes, enquanto
outros defendem a hegemonia da dupla Re-Pa, mesmo encontrando-se adormecidos no
cenário brasileiro. Por que não investir na base? A falta de um centro de
treinamento é fundamental para a solução desse problema. Não existe um
acompanhamento adequado com os jovens prodígios. Ou são exportados ainda jovens
ou não ganham chances no time profissional, depois somos notificados de que
aquele jogador despontou. O caso mais recente é de Paulo Henrique Ganso, atual
meio-campo do São Paulo.
Paraense Paulo Henrique Ganso, cotado para vestir a camisa da Seleção Brasileira na Copa de 2018 |
Por que não apostar nos jogadores oriundos do
estado? Das poucas conquistas, os clubes eram compostos por peças paraenses,
sem a necessidade de importar atletas de outros estados. O futebol do Pará
precisa passar por uma reformulação em sua gerência, começando pela sua
federação responsável. Nos planos também estariam o afastamento dos gananciosos
de poder nos clubes, para enfim retornar às primeiras divisões nacionais. Deve
haver uma cabeça pensante dentro das instituições, onde contratação é ação de
vida ou morte, contratar apenas jogadores de valor e não para compor elenco.
Tragicamente, os clubes não detém um bom status no mercado de transferências.
Quem sofre é o torcedor, amargando campanhas
vergonhosas e vendo o clube nas últimas divisões. Acostumados com momentos de
glórias, a esperança nunca morre. Apesar de tudo isso, ele não abandona o seu
clube, lota os estádios e é quem realmente ainda sustenta o futebol paraense.
No primeiro semestre, o clássico Re-Pa obtém uma média de público maior de que
diversos clássicos. O torcedor paraense é apaixonado por futebol e está cansado
de sofrer. Até quando isso continuará acontecendo? A expectativa é de que um
dia tudo volte ao normal. Em meio à tudo isso, o Paysandu ascendeu à Série B,
após acesso através do vice-campeonato da Série C de 2014, o Águia se mantém na
Série C, mas fora da primeira divisão do futebol paraense. Clube do Remo
brigará mais um vez por uma vaga na Série D, e a Tuna Luso, detentora de dois
títulos brasileiros (segunda e terceira divisão), situa-se na segunda divisão
do futebol paraense.
Escrito por: Victor Barra
Twitter: @VictorBarra96
Email para contatos: victinhobarra@hotmail.com
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