Eu gostaria de ter a inteligência de Mauro Beting no dia de hoje, o nosso gênio da crônica esportiva, Mauro que é filho do palmeirense mais santista que já tivemos no Brasil, o Joelmir, aquele que ensinava economia aos pobres na TV, sociólogo e economista admirado por muitos, odiado por pouca gente, mas respeitado pela seriedade e transparência, na envergadura em vida que passava para nós na TV, falando ao pobre e para a classe media baixa em como economizar as patacas em um país de estado puerperal, que desde o seu nascituro convive com a máxima que não deu e não dará certo.
Eu queria sim ter a versatilidade do Milton Neves, porque ainda que o odeiem por ter prosperado, por vender sapato, fio, terno, pastilha de carro, o carro e a frota toda de carro, a cerveja, colchões e sonhos na TV e no Rádio, para mim pouco importa, se ele gasta o seu dinheiro em Miami, na Califórnia, se odeia as esquerdas, se não compreende a dinâmica do materialismo histórico e dialético, enfim, ainda que ele seja tão odiado, ou que fale tanta bobagem, e que de um dia para o outro resolveu ser galo também, mesmo com tudo isso, sou fã. Eu já disse a ele em tamanha cara de pau nas redes sociais no ícone privado que não houve algo mais bacana em minha infância do que passar as tardes o ouvindo ao lado do meu pai os seus programas na Rádio Jovem Pan, porque aquilo sim era futebol. E ele me respondeu, dizendo que eu o emocionei. Num país de verdades e mentiras, mais mentiras do que verdades, confesso que eu acreditei no que ele prontamente me respondeu. O Milton Neves era o representante do santista no Rádio, ele era o representante do sujeito pobre de um rincão do Brasil que havia prosperado no planalto bandeirante, ele foi o meu sonho de criança em ser vencedor também, de vencer igual ao personagem que eu criei no Rádio, de um santista corajoso e boa praça, de crescer amando o futebol, assim como o meu pai venceu na simplicidade da vida. Há alguns meses o Milton entrevistou a esposa do Ramos Delgado em seu programa de Rádio e eu me peguei emocionado, chorando junto com a viúva do zagueiro que eu não vi jogar pelo Peixe. A veracidade daquela entrevista me fez instantaneamente estar presente em um dos títulos nacionais que o argentino ganhou pelo Santos na segunda metade dos anos 60. Isso é futebol, pois é somente assim que eu também consigo acompanhar o Trajano, O Kfouri, o Milton, o Tomaz Rafael e a sua aversão aos modelos socialistas e ou progressistas, o que ele deixa claro nos programas esportivos ao qual o Thomaz apresenta. Eu não preciso tomar partido por A. B ou C, eu somente preciso amar o futebol, simples assim.
Eu queria ter a simplicidade do Alexandre Gimenes naquele jovem canal esportivo, o EI, um também jovem, inteligente e carismático, um jovem corajoso que jamais se furtou de dizer a todos o seu clube de coração, o Corinthians, jovem que ouve Rap, que é um moleque esperto da Zona Sul de São Paulo, que chegou na malandragem no Rio de Janeiro, tal qual como o como o corintiano Adoniran ao subir o morro, e deve ser por isso que tanto o respeitam. Eu vou confidenciar algo aqui, quando eu ainda cursava a faculdade de História, escrevia uns textos sobre futebol e o Gimenes entrou em contato comigo, corrigiu o meu artigo de maneira educada em um erro de grafia que cometi. Como eu disse, eu queria ter a simplicidade do Gimenes, já o carisma eu não posso afirmar se posso ter, porque carisma é uma palavra complexa, única, ou você tem, ou você não tem. Carisma advém de algo superior a nós, ainda que o sujeito tenha fé na divindade ou não, é impossível de se explicar de maneira plena.
Eu gostaria de ter o poder de alterar o kronos, só para ler as colunas do velho reaça Nelson Rodrigues em uma segunda feira de manhã após um FlaxFlu ou algum jogo memorável, daqueles que a gente viu as reprises no Canal 100, porque a profecia que se cumpriu a posteriori a primeira coluna do velho Nelson, do até então adolescente Pelé em jogo no Maracanã, é qualquer coisa fora do normal. E daí que o velho era um conservador reacionário, mas e dai? Ele era gênio, tão gênio que eu ou qualquer outro mortal jamais poderá diminuir o seu legado, independente das diferenças ideológicas. Eu juro que ao ler uma das crônicas do Xico Sá, pensei em como seria grandiosa uma discussão em um domingo desses de rodada de muitos gols e polêmicas, em mesa redonda qualquer, entre o velho reaça, o Bakuninista Xico Sá e o ponderado Mauro Beting, juro que imaginei...Muita calma, eu não estou sob efeito de psicotrópicos, isso é somente imaginação de um maluco, maluco que vos escreve, um maluco por futebol.
Ao discorrer aqui, me lembrei do quão eu era imbecil, não que eu tenha me livrado da imbecilidade por completo. Ao ler um dos comentários sobre a LaU, do inteligentíssimo Renato Zanata, fui bocal e indelicado, eu o ofendi porque naquele momento eu estava em êxtase pela conquista da Libertadores do Santos em 2011 e destilei ódio de maneira covarde. No entanto, envergonhado fiquei, porque todo ignorante deveria se envergonhar das bobagens que faz, sendo assim, em silêncio eu passei acompanhar o trabalho do estudioso em futebol. Eu fui percebendo o quão eu era matungo, estava preso em um mundo sem janela e quando eu a encontrei percebi que o cara lia o futebol como ninguém, enxergava o campo de jogo com excelência. Como todo matungo igual a mim pode se redimir, felizmente eu consegui ultrapassar uma das barreiras da ignorância. Virou até Rap, compus e lancei a música “Mi Corazon es mi Verdad”, canção sobre futebol, justamente por conta de tal ocorrido. Eu só não tive coragem de pedir desculpas depois de tanto tempo, mas a minha mente segue mais leve depois que dei fuga dos cercamentos futebolísticos. Há um pouco mais de um ano eu fui à Argentina, arranquei de mim um ódio quase que xenófobo por conta do futebol, fui à Bombonera, disse ao guia do estádio o lado do campo em que o Pelé fez o gol do título da Libertadores, o que o deixou um tanto quanto “aburido”. Eu também tirei foto com a camisa do Independiente, assisti dois jogos da Argentina na Copa do Mundo no meio do povo na Praça San Martin e isso não me fez menos santista, claro que não. E lá eu estava, com minha esposa, minha filha e minha sobrinha, em meio a hinchas incrédulos que me perguntavam em como eu havia deixado o Brasil durante uma Copa do Mundo para passar oito dias em Buenos Aires. Foram 8 dias de transformações, além de deixar de ter aversão a um povo por conta do futebol, ganhei liberdade em meu intelecto, a partir dali em meu coração já não há fronteiras, eu as removi. Toda e qualquer bandeira chauvinista comigo já não passa.
Enfim, eu queria ser e escrever muita coisa, ser próximo de muita gente, NÃO por inveja, não isso, mas eu queria ser de verdade tão inteligente como alguns amigos pensam que eu seja, além de ser livre o bastante para compreender as diferenças.
E eu digo a você que me leu e não entendeu o motivo pelo qual eu não dei ênfase a vitória do Peixe sobre o colorado do Sul na Vila, pois bem, saiba que o jogo ficou tão pequeno diante da grandeza que o Santos Futebol Clube fez no dia de hoje, dando um chute para bem longe na xenofobia, recebendo os refugiados sírios, acolhendo e mostrando para o mundo que ainda somos aquele clube humano, clube que excursionava pelo mundo para escancarar o Brasil que deu certo pelos quatro cantos do planeta, enfim, a vitória ficou tão pormenor que tudo o que eu discorresse aqui sobre o jogo seria raso. É de uma experiência tão boa escrever aqui, que eu não vou estragar discorrendo sobre a ignorância brasileira na atualidade, dentre o período austero em que nos encontramos, porque de triste, já basta a obra do Paulo Prado e a sua tristeza peculiar em tentar elucidar o Brasil.
E para finalizar, primeiramente eu peço perdão por ter me alongado, confesso que eu me empolguei. Eu só gostaria de dizer nessa coluna inicial, que se você fã do Lobão, do Ultraje ou Fabio Jr, ou mesmo se for leitor de Olavo de Carvalho, está tranquilo, tudo bem para mim, você será muito bem quisto aqui, muito bem aceito por mim, até porque eu já nem me importo com o que as pessoas querem de mundo para hoje ou para o amanhã, no entanto, eu deixo um aviso importante aqui. Quem me ler, por favor, aceite as minhas diferenças, eu sou antagônico, confuso, vivo paradoxalmente entre uma linha imaginária do que seria eficaz para o bem do mundo, sendo assim eu parafraseio o rapper Xis, "eu gosto de Che, gosto de Malcolm e de Zumbi, gosto de Steve Biko",,, e claro, gosto de Victor Jara, porque eu tenho o direito de sonhar, de ser livre, porque eu tenho o DIREITO DE VIVER EM PAZ.
Eu pensei em elaborar um ótimo artigo, porém, ainda há barreiras em meu conhecimento sobre o mundo, o mundo da bola. Como diria o Joelmir Beting que tanto eu ouvi no programa Manhã Gente da Rádio Bandeirantes: "Na prática, a teoria é outra".
Evandro Amaral Fernandes - Guga.
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